Na edição 57 da Photo Magazine que circulou em julho/agosto de 2014 arrisquei um artigo sobre Banksy.
A fotografia sempre se prestou a amparar toda parafernália publicitária em que se transformaram os espaços públicos dos centros urbanos. Aqui no Brasil, exceção feita a São Paulo, as cidades foram invadidas por propagandas em grandes dimensões contornando todo espaço público imaginável. Nós, o público, somos cercados por ofertas e mais ofertas, sem pedir licença. E a fotografia está sempre lá cumprindo o seu importante papel de impressionar e… vender.
É a mesma fotografia que, por outra perspectiva – a autoral -, denuncia, contesta, questiona, documenta. Só que esta fotografia não está no espaço público. Está fechada numa diversidade de trancas de acesso representadas pelo museu, pela galeria, pelos jornais e revistas – compradas em bancas, livraria ou recebendo em casa -, pelo endereço da internet, pelo livro – comprado, geralmente em livrarias. É uma fotografia elitista por restringir o acesso ao público.
São raras as expressões manifestadas pela fotografia nos espaços públicos. Sua inserção passou a ser algo corriqueiro pelos sprays de um grafiteiro inglês de nome artístico Banksy. Por mais irônico que possa parecer, a fotografia transgressora que ocupa o espaço público não tem o olhar de um fotógrafo de ofício. É um grafiteiro que tem no estêncil sua ferramenta de expressão. Irônico, divertido, ácido, Banksy se apropria da fotografia para executar suas ideias criativas, bem criativas. E, petulante, consegue esculhambar com todos os dogmas da fotografia. O principal deles, a autoria, por dois aspectos: a efemeridade da obra e o uso da imagem alheia sem nenhum pudor.
Banksy cropa, descontextualiza, desenquadra, se apropria – algo como um sampler da imagem – manipula, enfim, comete todos os pecados imagináveis contra o que foi historicamente convencionado como fotografia. Os mais afoitos irão encher o peito e bufar que é a mais exata manifestação da fotografia contemporânea. Seja lá o que for, a obra de Banksy, por ser efêmera (o sistema apaga em questão de horas), tem na fotografia, digamos, tradicional, uma aliada. O grafiteiro fotografa todas suas intervenções públicas antes que sumam, assim como faz Vik Muniz, mas este por outros motivos que não o efêmero físico.
Conheci mais de Banksy e sua relação com a fotografia após comprar o livro Guerra e Spray (Editora Intrínseca). Não é uma leitura para dogmáticos. Lá está a jovem vietnamita fotografada por Huynh Cong “Nik” Ut na Guerra do Vietnam correndo de mãos dadas com Ronald e Mickey Mouse, fotografia que vi de perto – na parede – numa recente exposição na Caixa Cultural, em São Paulo, e fiz questão de reproduzir com minha camerazinha. Trata-se de uma fotografia de Banksy – que perpetua seu grafite – exposta entre as quatro paredes de uma galeria. Como se perceber, o inglês não sossega no seu ímpeto provocador. Nem que para isso pise em merda*.
Por ele mesmo: “As pessoas ou me amam, ou me odeiam ou realmente não dão a mínima”.