Uma noite de 12 anos relata o período que José Mujica e seus parceiros tupamaros Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro permaneceram presos, sob tortura física e psicológica entre os anos de 1973 e 1985. A produção uruguaia (2018), do diretor Alvaro Brechner, considerada uma obra prima, é a clarividente demonstração da hipocrisia do discurso dos regimes de exceção que cultivou a dicotomia do bem representado por eles e o mal pelos comunistas.
Os tupamaros representavam o comunismo na cabeça dos milicos. E todo tipo de tortura, seja ela física ou psicológica, se justificava para legitimar o discurso. O filme é pesado. Os três prisioneiros José Mujica (Antonio de la Torre), Mauricio Rosencof (Chino Darín) e Eleuterio Fernández Huidobro (Alfonso Tort) eram transferidos de um cárcere para outro de tempos em tempos, variando as condições de vida de acordo com o humor dos militares.
O final é emocionante para quem tem sensibilidade suficiente para entender o que são direitos humanos. A dicotomia se desmancha naturalmente. Rosencof voltou a sua vida literária (com suas cartas chegou a ajudar milicos com problemas conjugais, nos poucos tempos que os prisioneiros tiveram alguma “regalia”). Já Huidobro tornou-se político do legislativo uruguaio e Mojica, como todos sabem, governou o Uruguai de 2010 a 2015 (eleito em 2009 com 52% dos votos no segundo turno), numa administração humanista de redução da miséria, reconhecido e sem qualquer resquício de um sistema comunista como queria a milicada.